30 dezembro 2008

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24 dezembro 2008

All, None




Desejo a todos a todas e à sua sogra
Vera Lúcia
E ao Nandito sem esquecer o poeta justamente laureado
E aquele negreiro da Sortelha tão bom rapaz
Que agora passa a vida no Lobito
E à filha dele que está no Museu da Régua
E só usa sapatos Balenciaga muito giros até
Botas sobretudo aquela que estava na inauguração
Não essa dos leggings era a comissária
E ao dr Osvaldo o ex-secretário o amigo do Martins que bela evocação
Que ele fez da juventude do café
Entretanto destruído e ao Pacheco que se mantenha assim
E possa sempre votar em consciência de preferência na Amareleja
E para a junta que a democracia quer-se popular
E à Rica pra sair da depressão e ao Nuno que vai na sétima edição
E à Laurinda e à Fernanda que as causas tenham os respectivos êxitos
A erva seja enfim legalizada e as famílias de mãos dadas ao sol posto
E muito croissant muito crocant muito estaladiço
algum tesão sempre é preciso
E ao Zé Miguel a frente marítima sem trabalho ao Loureiro uma amnistia
Ao Vitorinho o Ministério da Salvação das empresas e diz-lhe
que levamos queijos e champanhe
A vocês todos um partido novo sempre é melhor que os partidos velhos mas não levem convosco os cacos todos talvez fosse conveniente não levarem convosco os vícios as esperanças os tiques as bandeiras dos partidos velhos
talvez fosse melhor vocês não irem
E agora Vera Lúcia a sério desejo acima de tudo à sua família
não a Felicidade mas momentos de felicidade
E a alguns amigos seus saúde
não estou a brincar e amor claro

23 dezembro 2008

Novas aventuras do anão suicida


Juan Muñoz, Sara com vestido azul


A lâmina abrindo a cara, no espelho. O beta-bloqueante. O peixe, a árvore que é como ele, um ser de raízes mutiladas. Os passeios onde se amontoa a merda dos cães, empilhada como um enfeite de natal, agora sem crianças, sem adolescentes e como sempre, sem velhos. A geada. O cão castrado a rebentar pela bexiga, no apartamento do artista em férias, adormecido contra o dedo da mulher em riste. O sangue nas veias que não devia coagular. A mulher que não come, que não chega. Já ninguém segura o anão suicida.

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22 dezembro 2008

Perguntem a Esmeralda

A pretexto do Natal e da festa que reúne as famílias, um tribunal ordenou que uma criança de seis anos fosse entregue a um desconhecido de quem, por azar, herdou metade dos genes.
Não se estranha a ignorância do tribunal. Um juiz não tem de saber o que é uma criança - não se estuda nos Códigos. Mas os técnicos que têm acompanhado o processo? Não se entende o seu silêncio acomodado.
Os jornalistas contam que a criança gritava quando se deu cumprimento à deliberação do tribunal e o pai dos genes realizou enfim a sua posse. Fez-se justiça. Mas ninguém interroga esta justiça que prescinde da opinião da criança?
Tem seis anos. Os juízes de Tomar e de Coimbra têm dificuldades no pensamento abstracto. Mas vocês, leitores hipócritas, façam um esforço. Estão a ver uma rapariga de seis anos? Vinte quilos, um metro e quinze, calça vinte e sete, muitas sabem ler. Todas sabem onde e com quem gostavam de passar o Natal. Sabem reconhecer quem gosta delas e quem as ignora, quem as quer comprar com vestidos, luvas, um par de Levis.
Basta perguntar-lhes. Alguém perguntou?

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sms

Filipe, não percebo o que não percebes.
Ana, é Reinaldo Ferreira, poeta moçambicano. O outro só canta, e já não é pouco.

21 dezembro 2008

A Trama

Uma livraria



Rua São Filipe Nery ou Neri (na verdade, ninguém sabe), Nº 25B 1250-225 Lisboa

e um blog
a trama (Ricardo e Carolina)

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20 dezembro 2008

Lá vamos cantando e rindo



No Ipsilão, Teresa de Sousa entrevista Jaime Nogueira Pinto. É como se fosse, 50 anos depois , a Christine Garnier a entrevistar Salazar, ele mesmo. O tom é ligeiro e propício a confidências. JNP confessa ser membro do Cercle, uma organização da guerra fria, que reunia espiões queimados, ex falangistas, ex ministros e escória em geral. O homem que reconciliou os portugueses com Salazar, esse ideólogo da direita que perora como quem eructa, o que a partir das ex colónias quis salvar o Império, é agora empresário em Moçambique e amigo do círculo do poder angolano. O que é que esse homem de cultura, presidente da FLAC, Fundação Luso-Africana para a Cultura, faz em Moçambique? Chefia, com outros ex-fascistas, uma empresa que faz outsourcing de segurança e emprega 5 000 pessoas.
-Tem de reconhecer que é um exército - diz a jornalista oficial europeia.
-É. - eructa ele.

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17 dezembro 2008

O BANHO




ele insistirá em
ler coisas no mais simples acto dela.
o banho, que ela toma
porque ele quer. o banho
ela toma para se limpar.
ritual. ritual sempre
na vida dele. ela toma o seu banho
para se aprontar.
e ele a maior parte das vezes decide
que ela o quer sem banho. másculo.
o que lhe agrada mais é
ela tomar sempre banho.
na banheira dele. na água dele. esposa.

Joel Oppenheimer, in "Antologia da novíssima poesia norte americana" futura,
1973 trad. Manuel Seabra

sent by// André Bonirre

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14 dezembro 2008

Rogério Casanova

Com os blogs atarefados a escolher as figuras que se distinguiram em 2008 quero aproveitar para aqui registar a maior surpresa positiva deste ano: os textos de Rogério Casanova na revista Ler. Erudição, humor, domínio perfeito da língua de Edite Estrela. No último número da Ler, RC faz um resumo notável do livro que Irene F. Pimentel dedicou a um torcionário da PIDE e das reacções ignorantes que despertou. É pena que a Pastoral Portuguesa, que RC utiliza como bloco-notas, seja tão preguiçosa e com uma chinela futebolística tão marcada. Mas o que fica para a Ler, e ao que parece agora também para o Expresso, é delicioso.

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Nunca, mas nunca



Um dos mais interessante posts da semana é o de Ana Gomes no blog que partilha com Vital Moreira. Diz Ana Gomes, a propósito da colaboração do governo espanhol de Aznar ( e da presumível cumplicidade portuguesa) com as operações de transferência dos presos levados pelos americanos para Guantánamo :
Em 2003 e 2004 eu mesma exerci o cargo de Secretária para as Relações Internacionais do PS e garanto que nunca, mas nunca, durante esses anos, o Governo Durão Barroso notificou sequer o maior partido da oposição dos servicinhos que disponibilizava à Administração Bush.

Estava à espera de que o governo notificasse o maior partido da oposição através da secretária de uma Comissão? E não ter sido notificada permite a Ana Gomes garantir que o PS não foi informado?

13 dezembro 2008

Tipo poema



A minha miúda
hoje
está aziada

mas a agenda
supostamente
joga
tipo
a meu favor

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11 dezembro 2008

Parabéns, Manoel de Oliveira



Diziam que o Paulo Branco fazia passar os teus filmes em Cannes segregando: - Ele tem 80 anos, é talvez o último filme ...
Agora que és imortal mostra o que vales.

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10 dezembro 2008

À espera dos anarquistas



O Filipe, olhando para a Grécia, acha que é a velha tralha embrulhada em papel reciclado (e chama velha tralha à versão menos bruta do marxismo, a filosofia de Althusser, que, para quem não saiba, era um marxismo de luxo para burgessos com algumas preocupações teóricas).
Nem a obra de Louis Althusser é representativa da velha tralha, nem os manifestantes que incendeiam a Grécia são reconhecíveis utilizando os estereótipos do passado.
À sua maneira Rui Tavares, o mais simpático pensador da esquerda no espaço mediático, comete o mesmo erro na crónica de hoje do Público. Ele reflecte sobre o significado das recentes sondagens interrogando-se sobre os obscuros motivos que levam a esquerda a ser maioritária.
Quer o Filipe quer o Rui Tavares pensam o mundo à luz dos quadros de referência do século XX (desculpem a frase feita, mas parece ajustada). Rui Tavares ainda vê o PS como parte de uma mítica “ esquerda” que conserva alguma coerência, das Luzes à contemporaneidade, e socialmente se identifica com as classes desapossadas. E o Filipe sempre que vê as massas na rua julga que voltaram os bolchevistas.
Os velhos partidos parlamentares, do CDS ao Bloco, já não representam senão os funcionários, algumas famílias e as almas sem imaginação que fizeram, algures na vida, uma identificação clubística importante para a ilusão do eu-permanente. Têm algum interesse simbólico, como representação do sistema e simplificação social. Mas na hora da verdade, quando falta o dinheiro, quando a miragem da vida prometida descola da miséria da vida real, os velhos partidos não servem para nada. Indignamo-nos com o nosso empobrecimento e a vida opulenta dos fariseus do regime, de Loureiro a Coelho, de Júdice a Vitorino. Indignamo-nos com a prontidão com que cobram multas e impostos e a lentidão com que pagam vencimentos ou reconhecem os direitos que antes eram inalienáveis. Mas de que serve a indignação se não para outdoors decorativos como as árvores de Natal. Quando a pressão se torna intolerável os deserdados do regime saltam para a acção directa e encontram as suas formas organizativas. As organizações que representarão as multidões que o sistema em falha empurrou para a periferia, e em que elas se reconhecerão, ainda não existem. Anarquistas para o primeiro-ministro grego, a velha tralha para Filipe, estão em movimento. Entretanto, o lamentável Gama repreende os deputados faltosos, e esse Batista que o PS hoje alcandorou a porta voz parlamentar e é uma glória da camorra coimbrã, discute , como um contabilista, se é recessão ou não o que vivemos.
Nós jogamos xadrez.

The Mirror

09 dezembro 2008

Manufacturers of Constellation

08 dezembro 2008

Dar, não dar livros


ilustração de um livro da Planeta Tangerina

Gosto de dar livros. Os livros são como as flores. Há um código básico que impede de dar Madame Bovary a uma jovem senhora casada com um médico taciturno, ou Julieta Monginho a uma menina que entrou no CEJ, ou O Buda dos Subúrbios a um jovem indeciso na sua sexualidade. Mas nos últimos tempos as coisas complicaram-se. Deixei de poder dar Coetzee ou Roth ou mesmo o Filipe Nunes Vicente a H., o meu mais antigo cúmplice literário, porque, nas palavras de Luís Quintais, a selva escura se vê agora nítida com a agravante de a certeira morte já não ter incerto tempo. Assim os livros que falam sobre a morte só podem ser dados aos muito jovens, mas estes, ainda tocados pela ilusão de imortalidade e alegremente ignorantes do negro iceberg evolutivo, não ligam a estes temas estrangeiros, e recebem os livros com mal disfarçada desilusão. Dou livros da Planeta Tangerina, a meninos a quem nunca lerei as histórias. Olho-os nos olhos profundamente, e se merecem, dou-lhes os livros que tenho escondidos na estante, entre títulos sérios que falam das doenças e de como as evitar. Livros com coração de mãe, a letra P de pai, o que num segundo acontece no mundo que ainda não conhecem, de como um menino em África se equilibrou pela primeira vez numa bicicleta, um elevador em Nova Iorque avariou entre dois andares.

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07 dezembro 2008

Quatro noites de Osakra com Anna



Um homem caminha na nossa direcção, passa por nós e, acompanhando a sua marcha penosa vemos que ele persegue uma mulher. Depois, como foi notado, passamos algum tempo sem perceber quem é, e o que faz este homem, tratado pelo nome de família, Osakra, e quase sempre chamado por uma voz rude e ameaçadora, a de um polícia, um superior, a avó agonizante.
A mulher que ele espia vive sozinha. Ele olha-a, do seu posto de voyeur. Algumas vezes levanta-se, percorre com a sua marcha cerebelosa o caminho escorregadio até à janela do quarto térreo da enfermeira, e depois de investidas cada vez mais ousadas, acaba na violação do domicílio da vítima.
No julgamento, quer depôr. E explica, na sua voz grosseira, primeiro um murmúrio confuso e depois uma palavra clara, o motivo da sua acção.
A aldeia do leste europeu onde isto se passa está num tempo estranho, uma Idade Média pós-comunista, com escassas tecnologias modernas inseridas em ruas lamacentas, casas geladas, a torre da igreja, um crematório, um rio de margens brancas onde, antes de soar uma sirene, passa uma vaca morta. Dessa aldeia conheceremos o espaço de deambulação de Léon Osakra, um homem de mãos moldadas pela lama das folhas, as gretas do frio, a pega do machado, cinzeladas no fogo onde apaga as marcas das vidas que se acabam. O amor de Osakra por Anna é o sentimento bruto que assolava os machos da espécie, antes da escrita, da literatura, do cinema, da psicologia e da lei. No momento da revelação Anna não sabe o que fazer a um amor assim. E o filme suspende-se num muro branco, de tijolos caiados, que estranhamente parece ter estado sempre ali.

Quatro Noites com Anna
Jerzy Skolimowski

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One at the time

Lerdos jornais

A editora Bertrand resolveu juntar num livro três homens de piada fácil que se notabilizaram nos anos 90 num programa a que a SIC chamou Noite da Má Língua. Os três consideram a década de 90 como a da liberdade- numa expressão feliz de Rui Zink, o momento em que o pide saíu de dentro das cabeças dos portugueses- e o seu programa um símbolo desse clima. Somos sempre os piores juízes quando estão em causa os nossos cometimentos. Mas manda o respeito que se fale frontalmente a quem ganha o dia-a-dia escarnecendo: não me rio com a piada obesa, a gargalhada fácil, o machismo com sotaque do norte. Gosto do MEC com ternura mas custa-me quando ele fala de tudo como os cronistas generalistas.
No Expresso desta semana uma promoção da Bertrand juntou no mesmo talho, e depois em outro cenário de horror, as três figuras, além dos jornalistas. Não falo do trabalho fotográfico, por respeito para com os cadáveres expostos. Mas num dado momento da entrevista o Rui Zink tem a seguinte tirada:
- A comunicação social passou do quarto poder para o quarto do poder. Agora dormimos todos com o primeiro-ministro.
Ao que o cómico do Norte retorquiu:
- Fala por ti...
E logo uma das entrevistadoras:
- Fale por si.
Esta jornalista assina-se, pelo menos neste trabalho, com o nome de Katya Delimbeuf.

Adenda: A entrevista da Revista Única do Expresso não está acessível, nem as incríveis fotos do talho, com três intelectuais obesos a exibirem-se para a produção, entre bovinos esquartejados. Katya Delimbeuf, já vi no Google, é mesmo uma jornalista que além de não frequentar o quarto do poder, assina, de vez em quando, interessantes reportagens.

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06 dezembro 2008

O Jardim Botânico atrás das grades


foto de AKA

Botânicos, confirmo o encerramento do Jardim. Aos sábados de manhã, quando a ideia de Jardim se me atravessa. O espesso gradeamento separa-nos das araucárias, das tílias, da figura enregelada de Avelar Brotero, tão só,como nós cá fora, estátuas entre as folhas caducas dos plátanos.

Adenda: Este post foi escrito às dez horas. Ao meio-dia o Botânico estava aberto. Um rapaz vendia produtos naturais e mulheres de duas gerações comiam a mesma sopa, desconsoladamente, debaixo de uma tenda. Um turista espanhol, vendo uma jovem mulher apanhando mirtilos, aproximou-se. Ela recuou, pensando que o espanhol, vestido de azul operário, fosse um guarda do Jardim. Apanhar mirtilos num Jardim da Universidade é um acto de duvidosa legalidade e ela ouvia as longínquas campainhas da culpa e estava preparada para uma advertência. Quando o espanhol lhe pediu que o fotografasse, ela sorriu, com alívio ao sotaque andaluz. Interpretando mal o sorriso o turista estendeu a máquina à jovem mulher. A correia da pega enroscou-se-lhe nas mãos o que propiciou um contacto breve mas intenso. Nessa altura o namorado da jovem mulher que, num patamar abaixo, recolhia sementes de um pinheiro dos Himalaias, começou a subir as escadas justamente no momento em que a máquina era disparada. Ficou para a história o momento em que o sorriso do espanhol se gelou nos lábios e ele percebeu que continuaria sozinho a sua viagem. Cenas destas, histórias que morrem ao começar, acontecem todos os dias debaixo das tílias, no jardim da Universidade.

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05 dezembro 2008

sexta-feira


Juan Muñoz

Que cansaço é este. Alguém lhe bateu e ele não se lembra. A água, os cremes, o bairro operário deserto. A chuva, as cores de chumbo. O cutelo, a lâmina, a culatra, o serenal. Foi desmascarado. Antes mesmo do plano ser urdido. Antes da carta escrita. Descobriram-lhe o truque, anão suicida.

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04 dezembro 2008

The Swimming Pool

03 dezembro 2008

From Telly

02 dezembro 2008

American Actress


Juan Muñoz

A lâmina na cara, a água, os golos do Benfica, o Cristiano Ronaldo não-sei-quê, detesto estas glórias pátrias, detesto a pátria, li que o rei dom Duarte se achava, ele o PCP, os únicos e verdadeiros patriotas, o branco limpo do gelo nas ruas, as raparigas na passadeira do antigo liceu, tão orgulhosas, ignorando o frio, o cão castrado do senhor Gerardo, o dedo na fenda, o teu nome oficial, a chave na fechadura, os mails acumulados no fim-de-semana, a bata. Começa outra semana e de novo uma torção das vísceras a que chamam angústia ameaça o anão suicida.

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01 dezembro 2008

Thunder