30 junho 2008

«O acordo que protege trabalhadores»


(MICHAËL BORREMANS, The Pupils & Sociedade de Porcelanas de Coimbra)

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28 junho 2008

Homem Lento


Karel Funk


Viu há dias um filme sobre os lobos de Yellowstone. No Vale dos Lobos, um vírus atacou e exterminou quase todos os jovens. Uma alcateia do grupo conhecido por Druidas abandonou o Vale. Um deles era o 302, Casanova, um lobo preto. Ao longo de alguns anos ele vagueou pelas zonas altas de Yellowstone, com o que restava da alcateia. Nasceram e morreram crias, vítimas do vírus e de um grupo de forasteiros que , sem que que se percebesse quem o orientava, atacou os adultos Druidas enquanto os jovens morriam, famintos, nas cavernas geladas. Na primavera do ano de 2006, o 302 tinha ao seu lado alguns jovens e os adultos sobreviventes. Com eles reconstituiu a alcateia e rumou ao Vale dos Lobos, ocupado pelos coiotes, tão numerosos que se mordiam entre eles até à morte.
De sua casa, há uns anos que vê o grande sucesso dos milhafres do Choupal. Um deles, o 26, caça nos terrenos do Pólo 2, e aventura-se até à Solum, em cujos jardins revoltos prosperam os ratos da cidade e pombos tão gordos que não passam do chão.
Quando pára de escrever vê o voo elegante do 26 e ressoam lhe na cabeça as palavras que Coetzee pôs na boca do Homem lento : Não tenho estado à altura da situação, não me tenho portado bem.
É o 933 456. Ou o 18 311. Ou o 534. Depende dos registos. Ultimamente é o NIF ou o NIB. Não reconstituirá nenhuma alcateia.
É como o homem lento, mais do tipo crepuscular.

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Da Crítica Dogmática: um crítico contente com as hordas na Praia da Consolação

Eu vim para a blogosfera, há cinco anos, com o propósito simples de publicar textos dos poetas sem qualidades, e considero cada lançamento da Averno como um momento alto da minha vida de leitor de poesia. Dito isto acho que Osvaldo Silvestre mete as mãos na carne viva e escreve, com a erudição e a ironia, a proximidade e o distanciamento que caracterizam a grande crítica, um dos textos mais interessantes sobre a actual poesia portuguesa e a crítica que (tão pouco) a acompanha.

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Memorabilia



Sobre Relíquias fantásticas, com prefácio de Maria José Goulão, uma autoridade eclesiástica.

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22 junho 2008

Mensalidade


Rineke Dijkstra

As mamas aumentam para a copa C
tudo por meios naturais
e elas estranhamente não parecem
retirar daí grande alegria e é como
se as mamas não lhes pertencessem
e fossem corpos estranhos em cima
do grande peitoral
aquela coisa onde os infantes mais tarde
se aplicam

dói-lhes uma dor colectiva uma dor que
as une às mulheres mais velhas uma dor impossível
de entender

estão irascíveis debaixo do make up estão
na crista e no concavo da onda
estão num lugar
que não pretende ter consolo

nem reconhecimento

não esperam compreensão
sem deus nem AINEs
são um bicho acossado mostrando os dentes

as raparigas dismenorreicas

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20 junho 2008

Salão Brasil - Coimbra

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16 junho 2008

est nunca mais



Esbjorn Svensson (1964-2008)

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15 junho 2008

Diário



A manhã nas compras e a tarde no futebol. A Rosa diz que eu reúno o pior de dois mundos.

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13 junho 2008

As Lições de Junho




Durante três dias, as estradas, em alguns pontos nevrálgicos do país, foram controlada por façanhudos que impediram a circulação de mercadorias. A polícia do Estado assistiu com benevolência. Habituada a dar porrada em trabalhadores fabris e estudantes faltava-lhe o cacete adequado e não actuou, nem seguramente recebeu ordens para tal. Agressões, atropelamentos mortais, destruição de bens, incêndios, foram consentidos com placidez. Enquanto os jagunços ocupavam a rua, o governo negociava com os representantes engravatados do sector. E repunha-lhes os lucros à custa dos restantes cidadãos, mais preocupados em encher os depósitos de carros e discutir o contrato de Scolari com o Chelsea.

Em plena crise a Galp aumentou o preço dos combustíveis. Mas não se ouviu nenhum grito de revolta, nem foi conhecida nenhuma acção responsável dirigida contra os distribuidores ou os produtores de petróleo.

A paralisação foi decidida, executada e dirigida por pequenos e médios patrões, com organização rudimentar. Os aparelhos sindicais clássicos que tinham mobilizado 200.000 pessoas na semana anterior assistiram, como o resto do país, ao espectáculo. Dos aparelhos sindicais neo-clássicos ninguém espera verdadeiramente nada.

Os partidos parlamentares estiveram a comemorar o dia não-se-sabe bem de quê. Os partidos de esquerda parlamentar fizeram declarações pavlovianas sobre a gaffe pavloviana do Presidente. A líder da oposição, economista de obra conhecida, esteve calada.

Os teóricos da alterglobalização fizeram ponte.

O Dr. Vital Moreira escreveu um artigo em louvor da economia de mercado regulada pelo Eng.ºSócrates e o dr. Loureiro fez um negócio milionário com peixe congeladono fim do prazo de validade.

Quando se esperava que os partidos explicassem aos eleitores a crise que encena os próximos episódios da civilização baseada no mercado, no individualismo e nos combustíveis fósseis, e apresentassem medidas para a dominar, houve futebol, história fedorenta, medalhas de metal sem valor em peitos sempre feitos e outros mais ingénuos.

Os jovens não acreditam na crise. Os jovens têm uma religião que tem como pilares os supermercados cheios de comida, o depósito de gasolina e os concertos de cerveja. A crise de Junho foi vivida como uma interrupção da festa, uma ressaca antes dos festivais de Verão.

Os mais velhos são jovens retardados. Como se vê nas reportagens do Europeu, os mais velhos olham para o lado antes de gritar, para ver como gritam os mais novos.

Os mais velhos dos mais velhos querem é que os deixem.

Os mais novos dos mais novos vão ser entregues aos pais biológicos.

Eu sei de um sítio com uma horta, água limpa, um falcão peneireiro nos céus. Não tenho é gasolina para lá chegar.

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10 junho 2008

O socialismo contra o papilomavírus




Além de José Miguel Júdice e de Vital Moreira este governo tem falta de apoiantes. O apoio do partido dos negócios é naturalmente discreto. Os beneficiários naturais, a gentinha dos gabinetes da burocracia do Estado pós-simplex, também não gosta de dar nas vistas. As vedetas mediáticas da política são como as crianças ladinas. Quando se calam é porque algum desastre está iminente. (Alguém sabe onde está Campos? Onde está Loureiro?) Há no entanto quem apoie este governo por ser socialista e ser de esquerda. É o Vital Moreira. Ele não apenas acha que Sócrates e os que se apoderaram do partido e do estado são socialistas, como os únicos socialistas. Não há, para Vital pangloss Moreira, outro mundo possível para lá do triste mundo que este PS nos destinou. No exercício de hoje do Público Vital enumera as medidas socialistas do governo. Uma delas, pasme-se, é “a vacina do cancro do colo do útero”. Recorde-se que o governo ainda não aplicou a medida. Só a anunciou ( gratuidade da vacina a uma coorte de raparigas). Ou a medida é transcendente e encerra em si a essência do socialismo dos nossos dias, e então prefiro os governos socialistas que já a executaram como os da Alemanha, do Canadá, da Austrália, sem falar desse prodígio socialista que é Sarkozy, ou o governo de Vital Moreira tem falta delas e, para o seu zoo medíocre, precisa de deitar a mão a todos os pássaros.

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Pequenos e médios patrões



Temos aí a greve dos pequenos e médios patrões dos transportes. Os pequenos e médios patrões eram, convém lembrar, os aliados naturais da classe operária, esse sujeito redentor da história. Os pequenos e médios patrões dos transportes são, a crer nas imagens da televisão, uns pequenos e médios brutamontes. Barraram as estradas aos motoristas assalariados pelos colegas insolidários e pelos grandes patrões da distribuição. Protestam pelo aumento dos combustíveis. Podiam protestar contra a Galp, a BP, a Exxon. Dado que as companhias petrolíferas não têm face, o interlocutor é o nosso legítimo governo democrático. O nosso governo hoje anda para aí a comemorar o dia da raça e amanhã, depois da esperada vitória da selecção de todos nós, vai sentar-se à mesa da negociação. Com os nossos impostos, com a nossa ruína, vai aplacar a fúria dos pequenos e médios patrões dos transportes.

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Pedimos desculpa mas o gasóleo está esgotado



Tinha trabalhado todo o dia e à noite, saiu do escritório, entrou no carro e ouviu, insistente, o aviso da gasolina no depósito. Entrou nas bombas. Não havia gasóleo. Teve de se abastecer com uma mistura que custava 1,5 € por litro. Percebeu, na cara da rapariga da caixa, no suor da testa do cliente, nas corridas nervosas dos rapazes, nos títulos dos jornais, que alguma coisa estava a começar.

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04 junho 2008

À noite, a musa



À noite leio os grandes livros
e interrompo a minha musa
que tenta,
sem conseguir,
avançar na Vida de Shakespeare,
de cuja vida se sabe tão pouco,
na versão do Bill Bryson
que é um autor a quem se afeiçoou.
Feita dicionário, a minha musa traduz-me
uma palavra estranha, mollify,
uma expressão idiomática, uma referência cultural.
Agora Coetzee, às vezes livros insuportáveis
que exasperam qualquer musa,
porque as musas,
da política, acham o mesmo que da poluição:
devemos afastar-nos dela, respirar outros ares.
Da política e da biologia, sobretudo
da biologia política, da biologia cultural,
daquilo a que o velho Darwin chamou:
as nossas mais baixas origens.
É uma questão de educação, pensa a minha musa.
À mesa da vida, não devemos
mostrar as nossas más maneiras, mesmo
se elas corresponderem a uma
estratégia evolutiva estável, diz
a minha musa com esforço,
e com um ênfase
que quer dizer:
nunca mais ouvirão de mim palavras destas.

À noite leio os grandes livros.
- Sublinha.
Devias escrever sobre isso.
(É o que diz a musa).
Às vezes a musa distrai-se.
Dos meus grandes livros.
Não me tira as dúvidas.
As vezes vai-se embora
Deixa-me sozinho.
And all her gracious parts
stuff out her vacant garments
with her forms.

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01 junho 2008

Terrível foi a noite do peixe



- O tempo está mau, mas não é motivo para sete cobertores na cama.Um exagero.
Embora também tu exageres. Um dos sete é afinal um edredão ligeiro e o outro o xaile imaterial em que te envolveste, naquela noite em que dançaste para mim, já nem te lembras.
- Com sete cobertores em cima, tinha de sonhar.
Um pesadelo atrás do outro.
– Sonhei com os deputados - disse a miúda. -Sonhei com a Assembleia da República.
Não achei nada de grave, nem que a obsessão anti-parlamentar fosse razão suficiente para ser acordado.
- É dos cobertores – insistes tu.
- É uma dor horrível - queixa-se a miúda.
Na sala já amanhece, e um dos peixes, o mais pequeno, o da mancha vermelha, o que vinha à tona de água mordiscar a comida, anda à deriva, para onde o leva a barriga - bóia.
– Já vi esta cena vezes de mais – dizes tu, especialista em mortes de peixes.
- Há demasiado peixe derramado pelo chão das greves de armadores – digo eu.
Comeu-se demais na terra - dizia ela, ou o pai dela.

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À atenção de Miss Allen

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Dia mundial da criança



Dia mundial da Infância. Tínhamos um programa. Mas com a selecção a fazer não-sei-o-quê, o rescaldo das eleições no psd, e as condições metereológicas adversas, decidimos adiar a infãncia.

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